terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Estilos de cervejas.



O que é um estilo de cerveja? É um conjunto de características que somados atribuem uma identidade a cerveja. Suas características são: Atributos subjetivos, técnicos, geográficos, culturais e o contexto histórico. Assim, podemos descrever a cerveja de acordo com seu aroma, aparência, flavor, sensação na boca, cor (EBC ou SRM), amargor (IBU), graduação alcoólica, extrato inicial e final. Seria ao equivalente a raça de cães ou gêneros musicais.

Porém, nenhum mestre cervejeiro chegou à cidade de Pilsen, na Republica Tcheca e disse a população: “A partir de hoje quem quiser fazer cerveja vai ter que produzir uma cerveja clara, de baixa fermentação, leve, com muito lúpulo da cidade de Zatec (ao norte de Pilsen), com graduação alcoólica por volta de 5,0%, etc.” Pelo contrário, um estilo de cerveja surge depois de muitos anos de produção em uma determinada região e de forma espontânea, levando-se em conta as matérias primas da região, o processo de fabricação, questões legais e políticas, religião, o momento histórico que o mundo ou a região vive e assim com a repetição do processo e dependendo da aceitação do público, começa a surgir um estilo de cerveja, envolvendo muitas gerações e mudanças. Portanto, quando colocamos em um copo uma Belgian Dubbel (ou qualquer outro estilo), não estamos bebendo apenas uma bebida alcoólica e sim todo este contexto envolvido na formação de um estilo.

Os estilos de cerveja são úteis para o consumidor saber o que esperar do produto que ele esta comprando, ao ler no rótulo a palavra Pilsen nosso cérebro forma o conjunto de características aceitável a este produto. Quando você diz a um amigo que tem um Boxer em casa, ele imagina como é seu cachorro, porém ele pode ser dócil, agitado, marrom, ter orelhas para cima, etc., mas daí são variações que a raça possui.


Atualmente, temos muitas competições onde as cervejas são avaliadas de acordo com o seu estilo, por isso, a maioria das cervejarias fabrica cervejas tentando reproduzir algum estilo consagrado. Todas as cervejas da Bamberg são reproduções de estilos alemães. Por isso utilizamos todas as nossas matérias-primas e processo de fabricação oriundo deste país.

Algumas vezes vejo pessoas levantando a bandeira da “falsa” criatividade e criticando os etilos de cerveja como uma coisa conservadora, retrograda. Sou totalmente a favor do surgimento de novas cervejas, que num futuro poderão tornar-se até novos estilos. Porém, coisas como, Pilsen Ale, Pilsen Escura, Pilsen com 9,0% de álcool, Bock Ale, Stout Marrom, qualquer pessoa familiarizada com estilos de cerveja sabe que estas cervejas estão com nomes errados, e que talvez até já se enquadrem em estilos já existentes, como, Kolsch, Schwarzbier, etc.

Criatividade é fazer uma cerveja que ao invés de adicionar lúpulo, adiciona-se radicchio, como é o caso de uma cervejaria de Treviso, na Itália, tradicional região produtora de radicchio, ou como uma cerveja japonesa que é feita de arroz vermelho, ou ainda, próximo de nós, a cervejaria gaúcha que utiliza erva mate. Estes e muitos outros, mundo a fora, são exemplos de inovação, criatividade, e quem sabe num futuro, precursores de novos estilos.

Resumindo: pizza Marguerita sem manjericão, nada mais é que pizza de mussarela.

4 comentários:

Unknown disse...

Alexandre,

Matou a pau este texto. Muito bom mesmo, parabéns.

Feijão

Alexandre Bazzo disse...

Feijão

Obrigado pelo elogio, vindo de vc que também escreve muito bem é uma honra.

Abraço

Anônimo disse...

Caro Alexandre.

O que dizer do surto de "stouts" lagers no mercado brasileiro? Um monte de lagers caramelizadas estão se auto-intitulando "stouts", talvez para pegar uma carona na cerveja stout mais conhecida do mundo, a Guinness.

Desde "Mãe Preta", passando por "Caracu", "Xingu", "Zebu", um monte de cervejas lagers estão se vendendo por aí como stouts.

Atentado contra a cultura cervejeira, ainda mais numa época onde surgem novos veículos tentando divulgar informações corretas, não acha?

Alexandre Bazzo disse...

É Fabio, vc tem razão, provavelmente isto ocorre justamente por causa do grande sucesso da Stout mais famosa do mundo. O que eu acho ruim é o não seguir o estilo corretamente e se tratando de Stout isso acaba sendo um dos fatores mais difíceis, seguir o estilo, pois apenas Stout não significa nada, ela tem muitos outros subestilos e bem distintos um do outro.
Não me surpreende uma grande cervejaria chamar de Stout a cerveja escura que ela faz, mesmo que esta não seja, o preocupante é algumas microcervejarias entrarem nesta onda, pois nós cervejeiros artesanais, além de fazermos cerveja, temos a obrigação de educar nosso consumidor de forma correta, só assim nosso mercado crescerá, isto é a chamada cultura cervejeira.

Abraço